As instituições de saúde, mundialmente falando, não são mais um lugar que as pessoas buscam apenas quando estão sentindo alguma coisa.
Em busca de um estilo de vida cada vez mais saudável, é comum que a população busque cuidados que, anteriormente, não tinham.
No entanto, a arquitetura e todo o funcionamento que, a priori, deveria atender profissionais e pacientes, ainda têm raízes pautadas no século 19 quando os cuidados deixaram de ser fornecidos apenas nas residências para que os custos fossem repassados aos hospitais que começaram a se tornar mais acessíveis.
Nos Estados Unidos, o número de hospitais saltou de 4300, em 1909, para mais de 12000 atualmente. A tecnologia permite cirurgias diárias e uma boa rotatividade hospitalar.
Apesar das melhorias, as instalações que já contam com o que há de mais moderno, ainda estão com arranjos arquitetônicos do século passado.
Padronizar completamente o atendimento e as redes de serviços, apesar de parecer uma boa ideia, não atende a particularidade das populações, principalmente quando comparamos a diversidade mundial no que diz respeito à saúde.
A criação de redes de instituições, no entanto, com foco em aspectos distintos da medicina é uma solução que tem se tornado cada vez mais aceita e viável.
Um quarto dos hospitais mantêm as mesmas características desde o final da Segunda Guerra Mundial, mesmo com pesquisas mostrando como o ambiente reflete na recuperação do paciente.
Como serão os hospitais e centros médicos no Brasil futuramente?
Nos hospitais do futuro, o quarto do paciente precisa ser projetado de maneira segura e que leve privacidade, conforto e proporcione cura com aprendizado para que o paciente seja agente ativo do processo.
Uma organização sem fins lucrativos, a NXT Health, localizada em Nova York, financiou o que seria o protótipo utilizado para reduzir complicações e diminuir os custos da internação.
O quarto teria uma cama mais espaçosa e aconchegante com tecnologia pronta para que o paciente utilize, além de sistema de bloqueio que não deixa ruídos externos atrapalharem o paciente no quarto.
Associado a isso, existe um sistema de terapia de luz que auxilia na melhoria do humor e faz projeção do céu para levar o paciente para fora do quarto, ainda deixando-o ali.
Os resultados seriam continuamente registrados, além de estarem conectados a uma tela que conte com entretenimento e sirva para que o paciente se comunique com a equipe.
Os pisos seriam construídos de borracha e com anti-derrapante para não reter bactérias e demais substâncias, além de diminuir o risco de quedas.
Visando mitigar as complicações e infecções, todas as superfícies foram projetadas com material sólido que permite a entrada de luz e direciona o funcionário diretamente para a lavagem das mãos.
O Walnut Hill Medical Center, localizado em Dallas, foi indicado como hospital de grande referência devido a seu centro inovador, aliando funcionários que passam por exame psicológico e são treinados para tratar os pacientes com excelência (certamente, não se trata daquelas startups em saúde, e sim, algo majestosamente maior).
Já no início, o paciente encontra um serviço de manobrista e, ao seguir para o interior do hospital, a regra é que todos os funcionários sorriam e cumprimentem calorosamente o paciente para que ele se sinta confortável.
As janelas dispostas auxiliam na entrada natural de luz e o ambiente externo é agradável e rico em tons de madeira.
Na recepção, os pacientes contam com tablets, materiais de leitura e ferramentas que vão ajudar na comunicação com a equipe médica e atualizar a condição clínica que o paciente se encontra, além de um histórico para comparação.
Os hospitais do futuro vão promover sentimentos positivos através de sua arquitetura mais sóbria, contando com instalações para manter o condicionamento físico e o bem estar de seus pacientes, prevenindo pioras causadas pela imobilização.
Será estimulado um estilo de vida mais saudável para recompensar o paciente de modo a fazer com que ele seja agente ativo de sua terapia e recuperação, eliminando assim os erros que podem vir a acontecer durante o tratamento e possibilitando uma identificação direcionada com auxílio de inteligência artificial e procedimentos virtuais em tempo real.
Futuro digitalizado na medicina? O futuro começa agora
É preciso saber que a Inteligência Artificial (IA), em breve será a responsável por toda a organização do sistema de saúde, direcionando as pessoas no que diz respeito a onde ir e quando ir, através de análise de registro, além de responder de maneira automática as prescrições e elucidar as anotações médicas. Lista de espera?
Isso será eliminado com a inserção da IA para agilizar os rastreios da saúde do paciente, direcionando-o ao consultório quando e se necessário antes de qualquer intercorrência.
Os prontuários e arquivos também serão digitais, possibilitando o acréscimo de novas informações de modo seguro e eficiente, eliminando o uso excessivo de papel.
Os hospitais do futuro serão uma maneira de mesclar cuidado do paciente e do meio ambiente.
A Big Data, uma área do conhecimento que estuda a maneira de tratar, analisar e obter informações através de um conjunto organizado de dados numerosos, será o futuro da medicina.
Através da utilização de armazenamento em nuvem, as terapias vão melhorar exponencialmente, criando bancos de fundamentos da saúde exatamente como as grandes corporações (Google, Facebook, Netflix) fazem. Isso já começou a ocorrer no escritório de Jeff Hammerbacher.
Engenheiro e médico da Escola de Medicina de Icahan, Jeff, através de um supercomputador chamado de Minerva, criou um software capaz de armazenar, processar e distribuir dados relacionados à saúde.
Em poucos meses, o computador gerou mais de 300 milhões de estimativas que fomentaram várias decisões precisas da saúde local.
Já o Dr. Joel Dudley, diretor de informática biomédica da Escola de Medicina de Icahan, retratou em um capítulo de seus livros que a construção de um sistema de saúde voltado para a aprendizagem e automatização é extremamente importante:
“Primeiro precisamos coletar os dados de uma grande população de pessoas e conectá-los aos resultados. Vamos jogar tudo o que achamos que sabemos sobre biologia e vamos apenas olhar para as medidas brutas de como essas coisas estão se movendo dentro de uma grande população. Os dados nos dirão como a biologia está conectada”.
Ao reunir os dados de mais de 30000 pacientes, a equipe descobriu novos subtipos de diabetes e doenças que não seriam descobertas sem o mapeamento.
De modo geral, analisando grandes quantidades de dados podemos identificar novos genes de diabetes em grupos distintos para fornecer formas de entender seu desenvolvimento.
Com o histórico genético e ambiental, podemos traçar novos padrões ligados à doença, possibilitando uma padronização prévia de descoberta e levando a melhoria do diagnóstico, entendimento dos sintomas e tratamentos.
Um banco de dados chamado BioMe Biobank, financiado pelo Instituto Charles Bronfman de Medicina Personalizada, tem por objetivo inscrever cerca de 100000 pacientes para fazer o armazenamento seguro e permitir a análise dos dados que passarão a ser amplamente utilizados para evitar que os dados se percam ou caiam em mãos erradas.
Reinventar não é somente reestruturar
Reinventar o conceito hospitalar não é apenas reestruturar. Uma das melhores formas de fazer o reinvento da área médica é começar a envolver a sociedade nas comunidades de saúde.
No ano de 2013, o Instituto do Futuro organizou uma imersão por 24 horas chamada de “O Hospital do Futuro” no qual o objetivo era gerar ideias para reinventar a experiência hospitalar.
Executada pela plataforma Foresight Engine da IFTF, o projeto envolveu pessoas de todo o mundo com visões distintas e participação através de um processo com o desenvolvimento de três cenários que levavam o envolvimento da comunidade e posterior análise de temas.
Mediante o resultado, cerca de 600 pessoas participaram, incluindo executivos, médicos, enfermeiros, arquitetos e cientistas da computação com a geração de mais de 4500 ideias viáveis de aplicação.
No ano de 2013 foi lançado o “Intel Healthcare Innovation Barometer” pela Penn Schoen Berland com o objetivo de indicar as necessidades de saúde de todo o mundo, focando em tecnologia e personalização.
É sabido que 57% das pessoas consideram que os hospitais tradicionais serão, em poucos anos, obsoletos.
Conforme estudo realizado pela organização, cerca de 84% das pessoas estariam dispostas a compartilhar informações pessoas de sua própria saúde para auxiliar nos cuidados e fomentar uma redução nos custos.
Ainda com esse estudo, foi possível ver que 72% dos entrevistados estariam dispostos a utilizar videoconferências em consultas não urgentes, além de preferirem cuidados projetados de modo específico e baseados nos eventuais perfis genéticos, e não em uma padronização arcaica feita para abranger a maior quantidade de pessoas.
As expectativas dos hospitais do futuro devem envolver isso, além de terem um design inteligente, tecnologias novas e aparatos novos para o melhor atendimento ao paciente.
Como promover uma maior participação do paciente? O futuro explica
Imagine um cenário em que exista uma mesa simples, redonda, com um computador e um projetor.
Médico e paciente estão juntos à mesa conversando amistosamente, discutindo os eventuais exames ali na sala através de uma explicação simples e direta ao paciente. Imaginou?
Esse é o cenário do futuro e isso garantirá um índice de satisfação em ascensão. Tal cenário já é possível no Departamento de Cirurgia Oral e Maxilofacial do Radboud University Medical Centre Nijmegen, localizado na Holanda.
O chefe do departamento, Stefaan Bergé, reestruturou seu local com base no livro “O guia para o futuro da medicina” e projetou quartos baseados em sugestões angariadas com os pacientes.
Ainda nas palavras de Dr. Bergé, os pacientes pediram coisas simples como uma melhor privacidade, mais informações sobre seus tratamentos, jogos interativos para as crianças que estiverem na sala de espera, além de uma arquitetura mais atrativa e proximidade da equipe médica.
Distante da Holanda, a Cleveland Clinic investigou tudo relacionado a saúde digital, criando um blog chamado “Health Essentials Blog” ligado a educação do usuário e da equipe médica, possibilitando uma consulta prévia aos profissionais e servindo como mídia social e disponibilização de novidades referentes a aplicativos voltados para a saúde.
Os pacientes podem, através do site, acessar seus eventuais registros, pagar contas relacionadas com o tratamento de saúde, além de poderem conversar com outros usuários sobre questões médicas e ter uma segunda opinião associada à telessaúde.
Os médicos poderão, também, oferecer o serviço de telerradiologia online e até visualizar prontuários de pacientes encaminhados de outras unidades de saúde.
Um dos poucos hospitais que oferecem consultas no mesmo dia, a Cleveland Clinic, tem investido pesado no acesso padronizado e particular aos pacientes.
Com uma alta reputação, a Cleveland Clinic tem atraído pessoas até de Abu Dhabi, levando a construção de projetos baseados no original, ao menos é o que um hospital em Abu Dhabi está promovendo mediante a filosofia aplicada ao paciente na era digital.
John Sharp, gerente sênior da Healthcare Information and Management Systems Society (HIMSS), um dos envolvidos na construção do projeto da Cleveland Clinic, acredita que a ideia do digital e depois do físico é o que leva a filosofia de colocar o paciente como agente principal.
O principal fomento para os novos design voltados para a saúde humana vem transformando a espera longa em cuidados prévios e conhecimentos para o paciente, principalmente no que diz respeito ao surgimento do câncer, dos cuidados paliativos e personalização individual.
Três hospitais infantis localizados em Estocolmo e Orlando começaram a aplicar os resultados do experimento ambiental.
Com luzes especiais, enfeites e brinquedos, as crianças acabaram se distraindo na sala de espera e os resultados foram ótimos: as consultas médicas passaram a ser mais calmas e o volume cresceu exponencialmente.
Todos os projetos apontam para o desenvolvimento de hospitais do futuro baseados em uma realidade completamente diferente dos atuais.
Um hospital comum, com portas fechadas e cores neutras promove uma visão hostil do consultório médico, especialmente nos lugares em que a janela é a única visão do ambiente externo.
Saímos do século passado, a medicina também precisa sair
Atualmente, o desenvolvimento tecnológico é extremamente superior ao do século passado, então não existe uma lógica de usar o mesmo modelo que usávamos no século 19 ou 20, é preciso inovar. No entanto, como isso seria feito?
O psiquiatra John Sharp demonstrou acreditar, em um artigo publicado, que os hospitais vão encolher, deixando espaço majoritariamente para as unidades de emergência e salas de pós-operatório.
A tendência é que os pacientes tenham uma cura mais rápida e um prognóstico melhor, além da prevenção que o levará menos a buscar auxílio médico.
Além disso, as demandas crônicas poderão ser resolvidas através de teleconsultas e acesso direto ao médico.
Para Paul Farmer, cofundador da Partners in Health, os cuidados para os doentes mais graves serão adequados às clínicas e hospitais, enquanto os menos graves ficarão mais dinâmicos e acessíveis.
A medicina do século 21 vai sofrer um empoderamento tecnológico através de projetos hospitalares que vão adequar a nossa realidade.
Os edifícios hostis se tornarão espaços positivos e vivos nos quais os pacientes poderão, constantemente, utilizar não apenas o valor terapêutico, mas, também, promover um repouso absoluto.
Através de um estudo realizado pelo terapeuta Morton Creditor, em 1992, cerca de 2% dos idosos, diariamente, sofriam com novos episódios de depressão.
A ideia é que as novas salas hospitalares sejam projetadas para ter espaços menores, mas contarem com mais espaços para terapia.
Os ambientes seriam mais positivos, menos solitários, com um corredor no qual familiares e médicos poderiam ter uma relação mais próxima, assim como os pacientes seriam acompanhados de perto e levados para uma caminhada acompanhada de modo a melhorar a recuperação dele.
E se os pacientes pudessem caminhar em parques verdes ao redor dos prédios? Ou terem uma visão, através das janelas dos quartos, de áreas verdes e respirar um ar diferente do enclausuramento hospitalar.
Um estudo publicado na revista Science, no ano de 1984, demonstrou que existe uma relação entre ambiente e resultado de saúde, comparando os registros de recuperação dos pacientes de vesícula biliar que tinham uma visão de árvores ou algo voltado para o meio ambiente em seus quartos.
Foi através desses resultados que ocorreu a possibilidade de comparação do desenvolver pós-operatório de pacientes em diferentes tipos de hospitais, levando a constatação de que os pacientes com visão da natureza tiveram recuperações mais rápidas e sofreram com menores complicações durante o pós-operatório.
Qual o motivo dos hospitais adicionarem inovações médicas em sua rotina?
O hospital do futuro poder beneficiar todos os tipos de pacientes e procedimentos médicos é uma vertente que vários estudos apontam.
O que muitos ainda perguntam é o motivo das inovações médicas começarem a ser uma máxima que já deveria estar acontecendo há muito tempo.
Seja através dos óculos de realidade aumentada, projeções de imagens em uma realidade virtual, impressora 3D ou computadores cognitivos que auxiliem na telemedicina ou robôs médicos prontos para auxiliar em procedimentos médicos, espera-se que o atendimento se torne mais barato, eficiente e rápido.
Os dispositivos portáteis exercerão um papel fundamental ao se comunicar com outros dispositivos de modo a diminuir o tempo de espera e organizar a logística de uma promoção de qualidade de vida.
As pessoas serão direcionadas no que diz respeito a quando e para onde ir, os registros serão analisados e respondidos automaticamente mediante às anotações e prescrições médicas.
Os robôs atuarão tanto na telemedicina quanto na desinfecção de salas, auxiliando no controle biológico e evitando contaminação cruzada para os pacientes.
As instalações serão aprimoradas, constantemente, com dispositivos de alta tecnologia com ampla disponibilidade de dados.
Além disso, será possível fazer a projeção em telas grandes para que todos os interessados possam entender sobre o procedimento, além de possibilitar que os pacientes registrem seu nível de dor, de sintomas e entre em contato com a enfermagem caso seja necessário.
Os centros médicos já estão começando a investir em uma arquitetura e design completamente diferentes. O paciente já passa a ter um ambiente que mais parece um quarto de hotel, com a promoção do contato com a natureza, mesmo que esteja separado por uma janela.
Atualmente, os pacientes são sujeitos passivos e não estão envolvidos no sistema hospitalar. A maioria nunca foi questionada sobre sua real preferência, assim como o design hospitalar não promove uma abertura para que isso ocorra.
O mais surpreendente, de acordo com Bergé, é que os médicos quase nunca têm a possibilidade de orientar seu paciente com relação ao próprio trabalho que ele faz, levando a uma relação médico-paciente mecanizada e que não é desenvolvida, nem mesmo no planejamento do espaço de trabalho.
Isso muda quando os arquitetos trabalham visando o paciente como indivíduo, encaminhando-o para suas rotinas diárias e possibilitando uma conversa médica mais profunda sobre o sistema de saúde, sobre o tratamento, como ele pode ser adequado a rotina do paciente e como o próprio médico atua para que toda a situação aconteça de modo sólido.
Juntamente com o feedback do paciente, a equipe médica pode sugerir alterações visando a melhoria do atendimento.
O que muito tem sido falado para os novos hospitais é o desenvolvimento de espaços melhores para os cuidadores.
E depois? O que esperar após a instalação das inovações
Não se pode focar o cuidado apenas nos exames e recuperação do paciente, é preciso pensar que os acompanhantes também estarão expostos e reclusos.
Para Bergé, os projetos médicos não devem poupar esforços e capital na construção de uma sala social, um espaço amplo para relaxar, jogar, interagir e compartilhar experiências.
Isso deve ser estendido não apenas para os médicos e corpo profissional, mas também para os pacientes e acompanhantes, dando a eles uma possibilidade de inserção, mas, também, promovendo conforto em uma tarefa tão difícil.
Uma pesquisa realizada na Califórnia através do Salk Institute mostrou que cerca dos 80% dos avanços tecnológicos não incluem o ambiente como um todo.
Para que todos estejam incorporados às mudanças, é necessário que as inovações sejam levadas para suas vidas e não apenas um protótipo pré-estabelecido e padronizado mundialmente.
A expectativa é que o hospital do futuro venha a atender e cuidar do estado de saúde, mas que também melhore as expectativas de todos que o buscam e atuem na parte da prevenção de eventuais problemáticas causadas pela permanência hospitalar.
Os hospitais do futuro vão girar em torno de dispositivos e tecnologias avançadas, fomentando uma melhor relação médico-paciente e estreitando os laços.
Tudo isso visará apenas uma coisa: uma experiência hospitalar verdadeiramente positiva e abrangente a todos que necessitarem do serviço.