Falar em robótica na medicina parece ainda uma realidade de filmes de ficção científica para você? Pois saiba que não é!
Há robôs na medicina, na indústria farmacêutica, que mediam a fabricação de fármacos, robôs que nos ajudam externamente, como os exoesqueletos (lembra daquele primeiro pontapé na Copa do Mundo no Brasil em 2014?) e internamente, como robôs órgãos artificiais.
E hoje, você irá ler sobre a famigerada cirurgia robótica.
História da cirurgia robótica na medicina
O início da cirurgia robótica se deu quando, no campo militar, surgiu a necessidade de trazer ferramentas de trabalho automatizadas para as proximidades do campo de batalha, onde a mão de obra e recursos são escassos. Trazer esse serviço para próximo ao ferido ao invés de despender tempo para levá-lo ao hospital ficou conhecido como a mudança do paradigma da Hora do Ouro para o Minuto de Ouro.
Na corrida espacial da Guerra Fria, foram desenvolvidas ferramentas de telepresença e telemanipulação, que foram e são de extrema importância para o desempenho da cirurgia robótica.
A era robótica
1985. Este é o ano em que uma das primeiras plataformas robôs que ajudam na medicina – Programmable Universal Machine for Assembly (PUMA) 200 – é empregada para a realização de biópsias neurocirúrgicas.
Três anos depois, a empresa Computed Motion desenvolveu um braço robótico controlado por voz equipado com endoscópio – tubo com câmera acoplada – chamado AESOP®.
A primeira versão aprovada para uso em 1994 era controlada por pedais, mas logo foi feito um upgrade no braço robótico e ele também passou a ser controlado por voz assim como o endoscópio, o que tornou desnecessário a presença de um auxiliar para segurar o endoscópio.
Entretanto, ainda havia a necessidade da movimentação dos cirurgiões, além da telemanipulação da câmera.
Diante disso, a Computed Motion desenvolveu o sistema Zeus. Para entender melhor, o robô Zeus possuía três braços independentes presos à mesa cirúrgica, assim um braço AESOP controlava o endoscópio e os outros dois braços possuíam quatro graus de liberdade (quatro opções de movimento).
O Zeus em conjunto com um sistema de colaboração Sócrates realizaram a Operação Linberg, “a primeira cirurgia transatlântica” na qual o paciente estava na França e, o médico, nos Estados Unidos. A colecistectomia durou 54 minutos sem nenhum comprometimento técnico.
A era Da Vinci
Também na década de 1990, a Intuitive Surgical implementou a plataforma Da Vinci nos cuidados em saúde humana.
Dentre os procedimento que ela é capaz de realizar estão retirada toracoscópica da mamária interna, plastia valvar mitral, colecistectomias e fundoplicatura a Nissen.
A partir de sua aprovação pelo FDA, em 2000 , tornou-se o primeiro robô cirurgião operatório nos Estados Unidos, indicado para procedimentos laparoscópicos gerais.
Como aspecto inovador tinha visualizador colocado no console do cirurgião ao invés de tela, na qual os dois olhos ficam acomodados, o que proporciona um ambiente de maior atenção na cirurgia, proporcionando visualização 3D sem necessidade de uso de óculos.
Upgrades na plataforma foram capazes de eliminar tremores nas mãos e proporcionam maior delicadeza durante o procedimento.
O sistema mais eficiente criado pela Intuitive Surgical até agora é a plataforma Da Vinci Xi, como você pode conferir nas imagens abaixo.
O modelo multiportas mais avançado Da Vinci Xi superou a maioria das limitações da estação do paciente e dos braços do protótipo anterior.
Além disso, melhorias na tecnologia de visualização foram bastante representativas proporcionando visualização 3D HD imersiva, estável e ampliada do campo cirúrgico.
Houve aprimoramento do grampeamento robótico e feedback inteligente da profundidade do tecido, na qual o monitoramento é feito em tempo real. O porta-agulha com articulação em punho permite aos cirurgiões maior destreza durante a sutura.
E quais são as perspectivas?
Hoje, existem mais de 5.700 unidades Da Vinci ao redor do mundo, a plataforma é hegemônica no mercado.
Apesar de gigantes como a Google e a Johnson & Johnson (J&J) Medical Devices Companies estarem envolvidas em pesquisa e desenvolvimento desses tipos de robôs, a Intuitive Surgical ainda domina.
Melhoria em hardware e software, como a melhoria do acoplamento da plataforma e implantação de inteligência artificial são algumas das demandas da área.
Vantagem de uma Cirurgia Robótica
A cirurgia robótica é considerada um procedimento cirúrgico minimamente invasivo.
Para o paciente, isso significa redução de complicações no perioperatório e no pós-operatório: como redução da perda de sangue, oferecem menor risco de infecção e menor tempo de recuperação.
Para os médicos, maior acurácia na realização da cirurgia, proporciona melhor visualização e alcance de estruturas.
As pinças, por exemplo, são bem menores do que as usadas em videolaparoscopia e permitem movimentos de rotação de até 360º, garantindo acesso a estrutura que outras técnicas não são capazes de fornecer.
Sala Inteligente de Robótica
A Sala Inteligente da Robótica, fica localizada no Hospital 9 de Julho e permite o rápido deslocamento do médico entre duas salas cirúrgicas, agilizando a realização de procedimentos sucessivos .
Enquanto acontece a cirurgia na primeira sala, o vidro fica fosco para preservar a privacidade do paciente.
Quando essa cirurgia acaba, o paciente da sala ao lado já está anestesiado, o vidro torna-se transparente, ao ser acionado pelo cirurgião, e assim, ele pode iniciar a próxima cirurgia, sem precisar sair do console.
Uma das principais vantagens é a redução do tempo para os processos cirúrgicos.
Aplicações para as cirurgias robóticas e onde se capacitar
Cirurgia Robótica Pediátrica (Hospital Erasto Gaertener)
Dos hospitais com cirurgia robótica, este é um interessante exemplo. A retirada de um rim com tumor em um paciente de 4 anos, em 2021, foi o primeiro procedimento robótico realizado em uma criança com menos de 10 anos no sul do país.
O paciente teve alta 40 horas após a intervenção que durou duas horas e 23 minutos, necessitou de pouca analgesia no pós-operatório e não foi necessária transfusão sanguínea.
Um excelente exemplo do potencial da cirurgia robótica e dos procedimentos que já são realizados no país.
Centro de Formação em Cirurgia Robótica (Santa Casa de Porto Alegre)
A Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre lançou o seu Centro de Formação em Cirurgia Robótica.
Conta com cursos teóricos, práticos e hands on para todos os níveis de formação médica. Para você que é acadêmico ou até mesmo médico já certificado para cirurgias robótica.
Cirurgia Robótica do Tórax (certificação Einstein e Oncoclínicas)
O Centro de Treinamento em Cirurgia Robótica (CETEC) do Hospital Israelita Albert Einstein começa, maio de 2021, a certificar especialistas em cirurgia robótica torácica, que tem entre suas principais aplicações o tratamento de câncer de pulmão, dessa forma, os especialistas brasileiros podem se capacitar no país sem a necessidade de viajar para o exterior.
A Casa de Saúde São José (CSSJ) e o Instituto Oncoclínicas oferecem curso de certificação em cirurgia robótica atendendo às novas diretrizes do Conselho Regional de Medicina (CRM), implementadas em março de 2020.
O curso tem duração média de três meses, com módulos online, 40 horas no simulador, treinamentos no robô (inservice), cinco cirurgias para observação e/ou 10 assistências.
Cirurgia Robótica Urológica (Hospital Marcelino Champagnet)
O Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR), possui a plataforma robótica Da Vinci X.
Pesquisas indicam que pacientes apresentam menos complicações de incontinência urinária e disfunção erétil quando feita com o robô, além de reduzir o tempo de internação de três para um dia.
Além de realizar procedimentos, o Hospital Marcelino Champagnet oferecerá capacitações.
Robôs Cirurgiões
- Science and Technology Center (Endovia Medical): nessa empresa você consegue ter a experiência de operar com robôs cirurgiões.
- Neurocirurgia estereotáxica um método minimamente invasivo de cirurgia cerebral que pode estar localizada em uma área particular e restrita do cérebro, a exemplo de angiomas, tumores de cérebro;
- Da Vinci (Intuitive Surgical): como você já pode ler no texto (botão de retornar a sessão).
O robô da Vinci tem o tem dimensões que correspondem a um lápis, mas sua aparência gigante se faz por conta do tamanho da plataforma que é acoplado.
Possui console ergonômico e seu instrumental cirúrgico pode ser acoplado através de um pneumoperitônio feito com uso de dióxido de carbono, proporcionando a visualização das estruturas e do procedimento cirúrgico.
- Zeus Robotic Surgical System (Douglas Boyd): com um valor de mercado menor que o Da Vinci exerce funções semelhantes. O sistema cirúrgico Zeus é composto pelo AESOP (sistema endoscópico automático), Hermes (centro acústico), sistema cirúrgico Zeus (três braços robóticos separados, console do operador, console óptico) e Sócrates (sistema cooperativo remoto).
- AESOP (Computer Motion Inc) (botão de retornar a sessão): esse robô cirurgião pode acoplar um endoscópio em sua ponta, com firmeza e estabilidade inalcançáveis para os humanos.
- Hermes, é o sistema robótico que funciona por comando de voz, permitindo alterar a intensidade da luz do endoscópio, a altura da mesa, dentre outras funções.
Referências em Cirurgia Robótica
- Einstein: Com o centro de excelência inaugurado em 2011, pioneiro em realização robô assistida na América Latina. O Einstein possui 3 robôs Da Vinci e possui mais de 7000 cirurgias realizadas desde 2008.
- Rede D’or: possui o maior parque cirúrgico robótico do país, realizando procedimentos cirúrgicos nos estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Bahia e no Distrito Federal.
- Beneficência Portuguesa: realiza cirurgias robóticas há 3 anos, tendo realizado a 500ª em 2020.
- Hospital 9 de Julho: realiza cirurgias robóticas desde 2012 e conta com dois robôs Da Vinci. Além disso, foi o primeiro hospital da América Latina a adquirir a plataforma completa de treinamentos em cirurgia robótica constituída pelo Robotix Mentor e o Lap Mentor Express. Essa plataforma permite capacitar o cirurgião e o assistente concomitantemente.
- Sírio-Libanês: possui dois robôs Da Vinci, um deles destinado exclusivamente para treinamento, assim, profissionais como do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), instituição que atende via Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, puderam receber treinamento de profissionais do Hospital Sírio-Libanês para realizarem cirurgias robóticas de urologia, de cabeça e pescoço e no aparelho digestivo.
- Casa de Saúde São José: o diferencial do robô Da Vinci XI, presente na Casa de Saúde São José é que este possui dois consoles, permitindo que tanto o cirurgião, quanto o auxiliar intervenham no procedimento cirúrgico ativamente.
- Hospital Santa Izabel: primeiro hospital da Bahia a fornecer o serviço. Neste hospital, o robô Da Vinci é utilizado na realização de procedimentos urológicos, torácicos, oncológicos, proctológicos e ginecológicos.
- Hospital Moinhos de Ventos: localizado em Porto Alegre – RS, possui um dos poucos profissionais do mundo a realizarem cirurgia robótica para remoção de câncer de bexiga.
O Futuro das Cirurgias: Hospital Oswaldo Cruz
Com o avanço tecnológico, foi desenvolvido o robô Da Vinci SI, que é utilizado no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, seus dois consoles permitem trabalho em conjunto durante os procedimentos cirúrgicos.
O robô possui um mecanismo chamado “Single Port”, que permite que os procedimentos sejam realizados com uma única incisão.
Além disso, realiza fluorescência atóxica, que permite marcar o tecido que será retirado. E resolução de imagem melhor que das versões anteriores do robô.
Procedimentos ginecológicos, gastroenterológicos, urológicos, de cabeça e pescoço e transoral (em procedimentos para tratar apneia do sono e tumores de boca e garganta) são realizados com o Da Vinci nesse hospital.
Que tal vivenciar uma cirurgia robótica? No vídeo abaixo você pode conferir como é feito o procedimento. E se tiver um Google Cardboard a experiência fica bem melhor 😉
A cirurgia robótica está cada vez mais próxima do nosso cotidiano. O Brasil possui 29 dos 4500 robôs cirurgiões do mundo. Se você tem interesse na área pode conferir o trabalho do Dr. André Berger – Urologia (@drandreberger_) 😉
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