Telecirurgia e Cirurgia Digital: aspectos e vantagens (2022)
Telecirurgia e Cirurgia Digital: aspectos e vantagens (2022)
Paulo Miranda
Paulo Miranda
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A telecirurgia é a realização de um procedimento cirúrgico por um cirurgião à distância, utilizando tecnologias de telecomunicações, telemonitoramento e robótica.

A primeira telecirurgia transoceânica foi realizada em 2001, na qual o cirurgião Marescaux realizou o procedimento em um paciente que estava em Estrasburgo, França. 

Em 2000, a primeira telecirurgia ocorreu no Brasil, nela o cirurgião Louis Kavousse, da Johns Hopkins, de Baltimore, realizou uma varicocelectomia em um paciente do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo.

A telemedicina é a troca de informações médicas entre localidades distantes, por meio de comunicações eletrônicas, voltada para a saúde e para educação de pacientes ou profissionais de saúde. 

A telecirurgia, junto à telemedicina, é percebida como uma forma singular de utilizar os cuidados da área médica, por abranger o atendimento territorial, já que são diversos os empecilhos ao atendimento da população. 

Um exemplo disso, é o difícil acesso ao serviço ou a incapacidade de locomoção e enfermidade do paciente.

No decorrer do artigo explicaremos tudo o que é importante saber sobre telecirurgia, empresas, ensino e os eventos de cirurgia digital. 

Cirurgia Digital 

Telecirurgia ou cirurgia a distancia? Ambos termos se referem ao mesmo conceito

GIF: Consultor cirurgião colorretal e palestrante explorando ativos 3D (Digital Surgery, 2018)

Nos Estados Unidos (EUA), mais de 60 milhões de procedimentos cirúrgicos, sendo 20 milhões deles invasivos, são realizados todos os anos, fazendo com que o mercado cirúrgico seja estimado em 1 trilhão de dólares, somente nos EUA.

Entretanto, a demanda supera a oferta em escala global. É estimado que 5 bilhões de pessoas não tenham acesso a uma telecirurgia segura e oportuna. Todos os anos, 18,6 milhões de pessoas morrem devido à falta de um telediagnóstico, telecirurgia e acesso a cuidados cirúrgicos.

A cirurgia digital é definida como a convergência de tecnologia cirúrgica, dados em tempo real e inteligência. 

Até agora, as melhorias contínuas nas ferramentas cirúrgicas permitiram procedimentos mais aprimorados tecnicamente como incisões cada vez menores assim como o tempo de recuperação, maior acesso a espaços profundos e angulares dentro do corpo, maior precisão nas manobras e visualização 3D.

Os dados vinculados e os avanços em Inteligência Artificial (IA) estão começando a ter um verdadeiro impacto em como as telecirurgias são realizadas, reduzindo a variabilidade no processo cirúrgico e nos resultados.

De certa forma, existe uma corrida para acelerar a digitalização da telecirurgia com robô entre empresas, investidores, cirurgiões e sistemas de saúde. Todos eles têm por objetivo melhorar radicalmente os resultados dos pacientes e reduzir custos e ineficiências das cirurgias. 

Ademais, reduzir as desigualdades e oferecer cuidados mais personalizados também fazem parte dos objetivos buscados. Com o aumento das pressões de financiamento, as partes interessadas dos setores público e privado enxergam a telecirurgia como o próximo ápice da cirurgia.

Empresas com soluções tecnológicas para telecirurgias

cirurgia com robo já é realidade no Brasil

Conheça agora empresas que desenvolveram soluções tecnológicas para auxiliar em telecirurgia e telediagnóstico.

Assim, ajudando os profissionais da saúde a oferecer um diagnóstico mais preciso.

Digital Surgery: cirurgias acessíveis e seguras para todos

Ferramentas de telediagnostico só aumentam no mundo atual.

Imagem 1: Lançamento da plataforma de treinamento de simulação oferecido pela Safe Surgery 2020 em parceria com a Digital Surgery, realizado na Tanzânia (Digital Surgery, 2020)

O Touch Surgery é a solução em nuvem para vídeos cirúrgicos da empresa Digital Surgery, projetada para acessar e compartilhar vídeos com segurança. O computador DS1 com tecnologia de IA grava, torna anônimo e carrega os vídeos automaticamente, direto do centro cirúrgico.

Por muito tempo, a revolução tecnológica que proporcionou mudanças nas técnicas e nos dispositivos cirúrgicos não alcançou a educação cirúrgica com a mesma intensidade em todos os lugares do mundo. 

Há países em que os profissionais cirúrgicos ainda são treinados somente por meio dos livros, palestras e rotações clínicas por exemplo.

Assist International, Digital Surgery, hospitais entre outras instituições têm colaborado para desenvolver uma série de treinamentos de simulação dos procedimentos comuns como cesarianas e histerectomias, para serem fornecidos às instituições de saúde nos países de renda baixa e média.

Tais simulações são desenvolvidas sobretudo para equipes que atuam em âmbitos escassos de recursos visando garantir que o procedimento seja atingível com instrumentos básicos. 

Aliás, essas simulações integram a lista de verificação de segurança cirúrgica da OMS reforçando a importância de segui-la para melhorar os resultados dos pacientes.

O vídeo acima demonstra uma forma de realizar telecirurgias mais seguras e acessíveis através de tecnologias digitais que ajudam a apoiar equipes cirúrgicas em todo o mundo na prestação de cuidados seguros para seus pacientes. 

Essa simulação de cirurgia relatada no vídeo pode ser usada ​​por cirurgiões e residentes em qualquer lugar auxiliando a aliviar os problemas que estão associados com ocorrências em uma cirurgia real.

Auris Health: o poder dos robôs na intervenção

telemedicina já ajuda em processos de endoscopia.

Imagem 2: Design telescópico inovador do endoscópio da Auris (Auris, 2022)

A Auris Health está transformando a intervenção médica com a introdução da Plataforma Monarch

Com esta plataforma, a empresa busca alavancar o poder da cirurgia com robô flexível proporcionando novas possibilidades na endoscopia que usa pequenas câmeras e ferramentas para entrar no corpo por suas aberturas naturais.

Essa plataforma reinventou o conceito de broncoscópio, aproveitando o poder da robótica e um novo design telescópico para atingir mais profundamente o pulmão do que os métodos convencionais. Além disso, o endoscópio da Auris promete maior alcance, visão e controle ao realizar certos procedimentos.

Techfit: fazendo da personalização um novo padrão

A Techfit oferece soluções abrangentes e sob medida para pacientes que necessitem de reconstruções complexas, mas com alta precisão cirúrgica, com tempo reduzido e resultados estéticos e funcionais melhores. 

Aliás, permite que pacientes e cirurgiões tenham acesso ao planejamento cirúrgico e à implantes personalizados. 

É possível digitalizar o fluxo de trabalho da cirurgia reconstrutiva ortopédica e maxilofacial por meio da Digitally Integrated Surgical Reconstruction Platform (DISRP), uma plataforma de reconstrução cirúrgica digitalmente integrada. 

Tal programa ainda permite maior eficiência ao fornecer uma representação 3D realista da anatomia do paciente.

Os modelos 3D são úteis para fins de demonstração e treinamento. Esses exemplares permitem ao paciente ver sua anatomia e entender o procedimento ao qual será submetido já que pode ser manipulado em todas as direções para ilustrar planos de lesões e tratamentos.

Cirurgia Digital já traz implantes fabricados sob medida.

Imagem 3: Implante fabricado pela Techfit (Techfit, 2022)

Os implantes fabricados pela Techfit são projetados e fabricados de acordo com a anatomia do paciente utilizando polieteretercetona (PEEK), titânio (impresso, usinado e pré-moldado) ou polimetilmetacrilato (PMMA) na sua fabricação.

Ensino de Cirurgia Digital

O Stanford’s Technology Enabled Clinical Improvement Center (TECI Center) é uma entidade da Medicina de Stanford formada em março de 2018. 

Para pesquisas e o desenvolvimento de tecnologia conduzidos no TECI revelaram métricas de desempenho até então desconhecidas em relação ao domínio de cirurgias e procedimentos à beira do leito.

A equipe do TECI Center busca transformar a saúde e o bem-estar das pessoas por meio dos avanços tecnológicos junto com o suporte da ciência de dados e métricas de desempenho personalizadas. 

Eles realizam construção de design, criação de sensores e rastreamento de movimento e ciência de dados e excelência clínica.

telecirurgia no brasil não é mais tendência, será cada vez mais uma alternativa real

Imagem 4: TECI Center é dirigido por Carla Pugh que também é professora de cirurgia na Stanford University School of Medicine (Stanford Medicine, 2022)

O vídeo mostra cirurgiões que estão revolucionando a educação médica. Eles buscam deixar os avanços tecnológicos a serviço da humanidade e da saúde e bem estar do paciente, considerando e respeitando a autonomia e dignidade desses indivíduos. 

Criaram o Exponential Medicine pensando em como os futuros profissionais deverão ser flexíveis e empreendedores ao tratar dos cuidados de saúde. 

Essa ferramenta é um programa multidisciplinar que reúne médicos, pacientes e outros de forma a explorar a tecnologia de ponta com potencial para remodelar a área da saúde como um todo. 

No evento foram compartilhados alguns dos trabalhos mais recentes, incluindo uma demonstração ao vivo de interações clínicas virtuais interativas que preveem um novo futuro da educação e colaboração médica.

O Dr. Shafi Ahmed é o pioneiro em novas abordagens de Realidade Aumentada (AR) e Virtual (VR) para expandir a educação médica. Ele idealiza façanha que vão desde trazer milhares para sua sala de cirurgia por meio de VR ao vivo até consultores cirúrgicos de avatar de realidade mista. 

Eventos em Cirurgia Digital

O que é cirurgia computadorizada? Em 2019 já se discutia o futuro desse pedaço importante da área médica

Imagem 5: Panfleto da FT Digital Surgery Summit (Digital Surgery, 2019)

Através de eventos em cirurgia digital é possível explorar como os cirurgiões estão sendo capacitados por essas ferramentas transformando a telemedicina e a vida dos pacientes. 

Além disso, podemos observar como a junção entre dispositivos médicos e grandes empresas estão aprimorando a telecirurgia e o telediagnóstico. Abaixo listamos alguns dos principais eventos sobre o tema:

  • FT Digital Surgery Summit foi um encontro ocorrido em San Francisco em março de 2019, em que analisaram como as tecnologias da próxima geração já estavam transformando o desempenho na sala de cirurgia. Foi abordado custo, escala e acesso trazidos pela realização de uma cirurgia na era digital;
  • Digital Surgery: The “Davos of Surgery” Converges Healthcare Leaders to Adopt a Unified and Digital Vision for the Future of Surgery que aconteceu em San Francisco, englobou mais de 160 participantes e 23 palestrantes, incluindo líderes de empresas globais de dispositivos médicos, diversas organizações, sistemas de saúde entre outros. Definiram uma visão digital ousada para o futuro da cirurgia e marcaram as mudanças impactantes;
  • TECHFIT Digital Surgery’s Maxillofacial Symposium foi um evento ocorrido em 2019 que tinha o foco voltado para os interessados entender como a impressão 3D e o planejamento cirúrgico 3D podem ser usados em cirurgia maxilofacial e plástica;
  • TECHFIT Digital Surgery’s 5th Annual Global Digital Surgery Meeting realizado em outubro de 2019, foi uma grande oportunidade de conhecer como a cirurgia está sendo impactada pela revolução virtual.

Eventos similares aos listados acima ocorrerão ainda este ano, como por exemplo a International Conference on Telesurgery and Future Prospects (ICTFP) que será realizada em abril de 2022 em Atenas, na Grécia. Ademais, há também o 8th Annual Global Digital Surgery Meeting, que ainda não possui data prevista.

Para mais informações sobre a conferencia basta acessar https://waset.org/telesurgery-and-future-prospects-conference-in-april-2022-in-athens

e para o anual o site é https://www.dsmeeting.com/.

Como o Brasil se encaixa nas novas tecnologias cirúrgicas?

No nosso artigo “Cirurgia Robótica no Brasil é mais forte do que você pensa” falamos mais sobre a cirurgia com robô, suas vantagens, perspectivas futuras e como essas ferramentas já estão sendo utilizadas no Brasil. 

No parágrafo sobre “Aplicações para as cirurgias robóticas e onde se capacitar” vemos que há locais no Brasil que já estão buscando capacitar profissionais nessas novas tecnologias.

A Casa de Saúde São José (CSSJ) e o Instituto Oncoclínicas oferecem curso de  certificação em cirurgia com robô atendendo às novas diretrizes do Conselho Regional de Medicina (CRM), implementadas em março de 2020. 

O curso tem duração média de três meses, com módulos online, 40 horas no simulador, treinamentos no robô (inservice), cinco cirurgias para observação e/ou 10 assistências.

Para conhecer mais sobre telemedicina no Brasil e como é feita cirurgia robótica acesse mais artigos do site Inovação Médica.

Desde a primeira telecirurgia transatlântica e a primeira realizada no Brasil, essa forma singular de utilizar os cuidados da área médica tem passado por diversas mudanças. 

Empresas como a Digital Surgery, Auris Health, Techfit e outras têm trabalhado em prol de uma cirurgia a distância altamente tecnológica e de certa forma personalizada.

Sabe-se que esse tipo de tecnologia não é barata, apesar da sua grande necessidade principalmente para os lugares periféricos e longe dos grandes centros que possuem uma necessidade maior. 

Logo, é primordial simplificar, baratear e tornar a telemedicina mais acessível para que alcancem mais lugares do mundo fazendo diferença na vida das pessoas.

Publicado em:19/11/2022
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